ULTRAROSSO por Roger Libório

sexta-feira, dezembro 07, 2007



Menino de Ouro

Ele desembarcou em Milão em meados de 2003, comprado pelo Milan por 8,5 milhões de euros. Um ótimo negócio para o time italiano e, definitivamente, a sorte grande para Kaká. Considerado o melhor jogador de futebol do mundo em 2007 pelo FIFPro Awards (no qual votaram seus colegas de profissão) e potencial vencedor na eleição oficial da Fifa no próximo dia 17, ao 25 anos o brasileiro é um herói europeu. Na capa da revista GQ italiana de dezembro, ele é aclamado pelo seu talento comprovado, mas sobretudo por ser um campeão "bonito e bonzinho, além de educado, sério e religioso". Fama que, para quem vive na capital da moda italiana, poderia soar quase cafona. Não no caso deste brasileiro. E a prova tem 350 metros quadrados e domina a paisagem nas redondezas da Via Cusani, bem no centro de Milão. É Kaká, por inteiro, numa gigantesca publicidade de Giorgio Armani, de quem é garoto propaganda. Sinal dos tempos. Talvez esse jeito de genro que toda sogra sonha seja uma nova tendência num universo onde o estilo Kate-Moss-quanto-mais-apronta-melhor parecia reinar absoluto.

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domingo, outubro 28, 2007


Crise de identidade

Muito admirado na Europa por trabalhos como Pixote e O Beijo da Mulher Aranha, o diretor argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco não convenceu com o seu O Passado, que concorreu com outras 12 películas no Festival de Roma e é protagonizado pelo ator-divo mexicano Gael Garcia Bernal (Diários de Motocicleta e Má Educação). O filme, que conta o término de um casamento e suas implicações no futuro do personagem Rimini, não recebeu nenhum aplauso ao final da exibição para a imprensa (acontecimento incomum durante o festival), realizada no último dia 24 em uma sala lotada. No dia seguinte, foram poucos os jornalistas presentes na coletiva, na qual Babenco, de boina, echarpe e respondendo às perguntas com um italiano razoável, não falou mais do que o divulgado no kit de imprensa. Com respostas evasivas e centradas basicamente na sua própria história de vida (dramas pessoais, como sua vinda para o Brasil aos 14 anos e as dificuldades enfrentadas longe da terra natal), o cineasta afirmou fazer um cinema no qual as histórias são contatas a seco, fugindo da fórmula gordurosa e comercial dos melodramas vistos na TV. “Mas os personagens de O Passado não são um pouco exagerados e baseados em esteriótipos, como o da mulher excessivamente ciumenta e vingativa ?”, perguntou um jornalista brasileiro. “Não. Você deveria ver o filme outra vez, meu caro”, respondeu um Babenco alterado que, considerando a nacionalidade do indagador, completou: “Se você não entendeu, esse filme é argentino e não brasileiro”. Do esboço de bate-boca, nas entrelinhas, surgiu uma resposta que Babenco não gostaria de ter dado, mas deu. Afinal, se um filme seu “pra brasileiro” é diferente de outra produção sua “pra argentino”, o cinema feito por Babenco não é um “cinema de babenco”, ou seja, autoral. Triste conclusão: o único filme a concorrer em Roma este ano como uma co-produção brasileira, realizado em parte com financiamento e capital de empresas brasileiras, não agradou, é um filme meramente comercial (segundo o diretor, uma produção destinada a um público-alvo específico e geograficamente definido) e, na verdade, NÃO É BRASILEIRO.

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Enquanto isso, na Sala de Justiça
(Ops! Na sala de imprensa...)




Bom moço
Tom Cruise, apesar do corte de cabelo nazistyle (culpa da participação no filme Valkyrie, sobre a falida tentativa de assassinato a Hitler, em 1944) mostrou ser um sujeito até generoso. Durante a coletiva do filme Lions for Lambs, ele e ator-diretor Robert Redford, ultrasuperstars, obviamente foram o centro único e completo das atenções. Também faziam parte da comitiva cinematográfica os atores Michael Peña (Crash) e o estreante Andrew Garfield, que ouviam cabisbaixos, uma após a outra, as perguntas serem direcionadas sempre para os colegas de primeira-grandeza. Com o tempo da coletiva já quase esgotado, um incomodado e sensibilizado Tom Cruise girou-se para Peña e Garfield e fez, ele mesmo, o papel de entrevistador. Cruise deu voz e holofote aos rapazes.




Menino mau
Da meia-dúzia de perguntas feita ao ator Jake Gyllenhaal durante a coletiva de Rendition, três tiveram a resposta acompanhada da seguinte e dura frase: "Que pergunta ridícula!". No filme, que teve a pré-estréia européia durante o Festival de Roma, Gyllenhaal encarna Douglas Freeman, um agente "bonzinho" da CIA, a serviço no Norte da África, que começa a questionar suas próprias crenças e limites após presenciar um brutal interrogatório. Influência ou não do personagem, durante o "interrogatório" de imprensa, Jake, dessa vez, fez questão de assumir o papel de carrasco.

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Ultrarosso Carpet Girls








Furor no tapete vermelho da RomeFilmFest. Culpa dessas garotas.
De cima pra baixo:

Cate Blanchett - Protagonista de Elizabeth - The Golden Age
Jane Fonda - Participou da aula de Cinema Americano do Actor's Studio durante o festival
Sophia Loren - Madrinha e uma das homenageadas do evento
Monica Bellucci - Protagonista de Le Deuxième souffle
Halle Berry - Grávida (!) e protagonista de Things We Lost in the Fire
Reese Witherspoon - Protagonista de Rendition

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sexta-feira, outubro 26, 2007

ROMEfilmFEST 2007



Roma está tentando. Dez dias de festa com a presença de dez prêmios Oscar. O novíssimo festival de cinema da cidade (essa é a segunda edição), realizado entre os dias 18 e 27 de outubro, é uma tentativa da capital italiana de resgatar o título de "Hollywood à beira do rio Têvere", como um dia foi chamada. Mesmo sem a notoriedade dos tradicionalíssimos festivais de Veneza e de Cannes, a Rome Film Fest chamou a atenção pelos números: 167 títulos em exibição, oito pré-estréias mundiais, 24 homenagens e encontros com grandes diretores (como Francis Ford Coppola, que depois de dez anos sem filmar, reservou para o evento a apresentação da sua nova película, Youth without youth).

Esse affair romano com o red carpet internacional tem suas raízes, principalmente, nas filmagens de Ben-Hur, realizadas em 1959 nos estúdios da Cinecittà (principal complexo de estúdios cinematógraficos da Itália) e no centro antigo de Roma. O épico abriu as portas para as grandes produções americanas e, poucos anos depois, a capital serviria de set para o mais colossal de todos os filmes, Cleópatra, com Liz Taylor - uma produção que por pouco não levou à ruína a Fox Studios. Naqueles primeiros anos da década de 1960, o filme foi um grande evento coletivo que mobilizou completamente a população e gerou um impacto sócio-cultural sem precedentes sobre a cidade. Durante toda uma geração, em cada casa ou família, podia-se ouvir orgulhosamente alguém dizer: “Eu fiz Cleópatra”. O efeito de algo do gênero não poderia ser diferente: nas décadas seguintes, mesmo sem conseguir manter uma produção cinematográfica à altura do glamour experimentado durante os anos da chamada "Dolce Vita", permaneceu intacto esse amor histórico e generalizado pelo cinema.

*Fotos: Roger Libório. Red Carpet da II RomeFilmFest, instalado no Auditorium, em Roma.

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sábado, julho 07, 2007



Sétimo dia do sétimo mês de 2007.

É sábado, meu dia preferido entre os sete da semana. Acordo tarde, pois já basta levantar às 7h, de segunda a sexta. Soneca, um gato que tenho há sete anos (tão preguiçoso como o mais lento dos sete anões da Branca de Neve), chama a minha atenção para a janela do quarto, onde ele pinta o sete despreocupadamente, ignorando os riscos de viver no sétimo andar (o que não parece ser mesmo um grande problema para alguém com sete vidas). Lá fora, uma chuva ralinha, atípica no inverno, cai enquanto o Sol, um dos sete planetas da astrologia clássica, faz força para se abrir. Ao fundo, surge um arco-íris, dos grandes, com suas sete cores bem nítidas. Coisa bonita de se ver, não fosse essa dor de cabeça. Creio que é a ressaca daqueles sete drinks de ontem. Para melhorar, me ensinaram, basta pressionar a testa no ponto do terceiro olho ou Anja, um dos sete chakras do corpo. Mas, com a aguda cantoria matinal da minha vizinha, acho difícil a dor de cabeça passar. Ela possui um dos sete atributos fundamentais de Alá: a potência. Nesse caso, vocal. E consegue usar, no tom mais alto, cada uma das sete notas musicais. Nada pior para começar o dia. Essa senhora, que mais parece a personificação das sete pragas do Egito, de uma só vez, me faz cometer, antagonicamente, dois dos sete pecados capitais: a ira e a preguiça. Afinal, apesar da raiva e da cabeça latejando, não tenho ânimo sequer para levantar da cama. Talvez eu abra a Bíblia e leia os sete Salmos da Penitência. Talvez ligue a TV. E nesse caso, só preciso decidir entre a novela das sete e a cerimônia de escolha das sete novas maravilhas do mundo. Fico com a segunda. Mas, e se o Cristo não vencer? Já basta a decepção do Miss Universo. Por via das dúvidas, talvez eu saia de casa e pegue um cineminha. Em cartaz, a continuação do Quarteto Fantástico. Alguém me disse que o filme é bacana, mas que falta alguma coisa. Óbvio que falta: eles são quatro, ao invés de sete...

(Por Roger Libório - Texto publicado na edição da coluna DDI de 07/07/2007, no jornal Bom Dia)

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As maravilhas do 7 Podemos não perceber, mas, de todos os números, o sete é o mais presente em nossas vidas. E neste sábado um pouco mais. Afinal, é a única aparição tripla do sete durante o século XXI. Uma data especial não pela coincidência no calendário, mas pela força desse número tão importante através dos tempos. O sete é considerado um número sagrado e mágico, repleto de simbologia e fundamental em todas as teogonias, filosofias e religiões desde a mais remota antigüidade. Por isso, ele é referência em quase todas as culturas. Só na Bíblia o número é mencionado 323 vezes, sempre de forma importante: sete dias da criação, sete pecados capitais, sete virtudes, sete selos... Na história da humanidade, o sete esteve sempre presente. Seja nas sete colinas sobre as quais foi construída Roma ou nos sete milhões de votos que Napoleão teve para se tornar imperador dos franceses. São também sete os deuses da felicidade no Japão, os mares da antiga Grécia e até os ingredientes para se fazer um bom bolo na Alemanha. Segundo a tradição japonesa e tibetana, sete dias dura o estado intermediário entre a vida e a morte. Para os hindus, há sete centros sutis ou sete chakras no corpo. No Alcorão, fala-se em sete sentidos esotéricos. Para os astrólogos e numerólogos de plantão, acima de tudo, este sábado é importante porque concentra um número que é cabalístico e influencia o espírito de diversas formas, regendo a intuição, a capacidade de observação e análise. Sua importância estaria, sobretudo, no fato de somar o número do espírito, o três, com o número da matéria, o quatro. Portanto, o sete integra os dois mundos e é considerado símbolo da totalidade do universo em transformação. (Por Roger Libório - Texto publicado na edição da coluna DDI de 07/07/2007, no jornal Bom Dia) ..........

quinta-feira, junho 28, 2007

Testando as molas





Um japonês suspenso no ar (e não é o Jaspion!) com pernas cruzadas em posição de ioga-punk. Um quarentão de pijama, perdido na estratosfera com os braços para frente na ultra-clássica pose Superman. Uma vovozona que toma coragem e se lança estrupiadamente no ar. Tudo isso é BedJump, que literalmente quer dizer “pular sobre a cama”, coisa libertadora, transgressiva e totalmente sadia. Pelo menos é o que afirmam os participantes do blog Bedjump.com, que através de uma foto dividem seu momento detona-colchão com o resto do mundo. Virou mania.

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Notícia de cabide


Moda com conteúdo. Essa é a proposta da T-Post, a primeira “revista” de vestir. A idéia é bacana: a cada semana, ao invés de receber pelo correio uma revista, o assinante T-Post recebe uma camiseta com uma estampa diferente, criada por um designer. A ilustração estampada é dedicada a algum acontecimento que criou bafafá na mídia. Assuntos como aquecimento global ou um novo conflito no Oriente Médio são coleção passada. Normalmente, a t-shirt noticiosa retrata temas curiosos, como anúncios científicos, do tipo implante de microchip em borboletas ou porcos transgênicos que brilham no escuro. www.t-post.se

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Pra começar...
Meu primeiro post pode aparentar pão dormido, atrasadinho, mas amor nunca chega em hora errada. Pra ser sincero, esse blog nasce junto com outros projetos, entre eles a coluna DDI, que passo a publicar no jornal mineiro Bom Dia, na segunda quinzena de julho. Por isso, repito aqui o aperitivo da DDI que foi impresso no dia 12 de junho. Um especial italianado para o Dia dos Namorados.


SANTO ANTÔNIO OU SÃO VALENTIM?

No Brasil, o Dia dos Namorados cai estrategicamente na véspera do dia de Santo Antônio, o bom e velho milagreiro das causas nupciais. Mas, mundo afora, o padroeiro dos namorados é mesmo São Valentim, um bispo que na segunda metade do século III foi torturado e decapitado por tentar unir jovens casais apaixonados. O pecado de Valentim: ele casava os pombinhos na surdina, em um período no qual o imperador romano Claudius II havia proibido a realização de cerimônias de união em Roma. O governante via na figura das namoradas, esposas e amantes um empecilho na hora de recrutar novos soldados para seus exércitos.

Duzentos anos depois, a Igreja Católica santificaria Valentim, declarando a data de sua morte (14 de fevereiro do ano 270) como um dia dedicado aos apaixonados. Com os anos, pouco a pouco, as festividades dedicadas ao santo cresceram e, a partir da Idade Média, ele se tornou muito popular em diversos países, como França e Inglaterra. Mas a herança que Valentim deixou na Itália parece ser mais visível e, ainda hoje, ajuda a fazer de Roma, onde ele morreu defendendo o amor, uma cidade incrivelmente fascinante para os apaixonados.

E se tudo na capital italiana - das sacadas floridas às ruelas com charmosos restaurantes - parece ter clima de paixão, nada pode ser mais romântico do que os cadeados do amor, presos à Ponte Milvio. Pendurados aos montes nos postes de luz, há anos eles são o símbolo de uma tradição dos jovens casais. Todos os dias e principalmente no dia de São Valentim, os cadeados se acumulam, presos uns aos outros, como se o amor de cada um pudesse proteger o amor de todos. As chaves? Vão parar sob a ponte, no fundo do rio Tevere. Cada cadeado é uma jura e uma esperança de que os amantes continuem ligados, um ao outro, para sempre. Mais uma prova de que, não por acaso, a palavra Roma, ao contrário, se lê amor.

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ESTRATÉGIA
A criação do dia de São Valentim, pela Igreja Católica, funcionou como uma estratégia para tentar colocar fim a uma antiga festa pagã destinada à fertilidade, que consistia em uma homenagem anual, sempre em fevereiro, ao deus Lupercus.

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SWING
A tal homenagem era uma espécie de festinha descolada dos antigos romanos, na qual nomes de homens e mulheres que adoravam o deus Lupercus eram colocados em uma caixa e depois misturados, mais ou menos como no nosso ingênuo amigo oculto. Uma criança sorteava os nomes que formariam alguns casais que, durante um ano, viveriam "na intimidade" até que esse rito da fertilidade terminasse. No outro ano, tudo recomeçava. E a fila andava.

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